Nascido
na Alemanha, na cidade de Treves, Karl Marx escreveu sobre filosofia, economia
e sociologia. Seu pensamento é um dos mais difíceis de compreender, explicar ou
sintetizar, por tamanha riqueza e desdobramentos que vão além do campo teórico
e científico. Com o objetivo de entender o sistema capitalista e modificá-lo,
Marx produziu muito, suas ideias se desdobraram em várias vertentes e foram
incorporadas por diferentes estudiosos. A recepção do seu pensamento no cenário
mundial, se deu tanto pelo caráter universal de seus princípios, o caráter
totalizante que imprimiu às suas ideias, como também, ao caráter político,
militante de suas ideias divulgadas e voltadas para a ação prática, ou ainda,
para a práxis revolucionária.
Marx foi sensível as dificuldades
enfrentadas pela Europa, numa época de pleno desenvolvimento capitalista,
apontou as contradições desse modo de organização social, que quanto mais
crescia, mais aprofundava seus conflitos e dissensões. As revoluções burguesas
eclodiam por todo o velho continente fruto de um processo histórico que cada
vez mais se constituía e condicionava as relações do mundo vivido. Destacando
as contradições básicas da sociedade capitalista e as possibilidades de
superação da mesma, em época de grande efervescência social, de lutas sociais
que eclodiam por toda a Europa, o pensamento marxista possibilitou o
desenvolvimento não apenas da ciência, mas também da política, da organização
dos grupos sociais a partir de uma suposta necessidade política, de uma
participação ativa na vida social.
Influenciado pela filosofia alemã,
destacando o pensamento de Georg W. Hegel e Ludwing Feuerbach, além do
pensamento político francês e inglês, de Rousseau, conde de Saint-Simon,
François-Charles Fourier e Robert Owen, o pensamento marxista também sofreu
influência dos economistas ingleses como Adam Smith e David Ricardo. Todos eles
necessários para compreensão da reflexão marxista da moderna sociedade
capitalista.
A problemática do trabalho já
aparece nas reflexões dos economistas ingleses como um elemento importante na
vida social, pois é ele quem gera riqueza para as sociedades. Mas, além de ser
capaz de criar valor, esse elemento o trabalho, comum a todas as formas sociais
da vida humana, torna-se decisivo para a compreensão crítica do capitalismo,
para o seu funcionamento, para o modo como condiciona a vida social. As
divisões, as especialidades que o trabalho vem apresentando na sociedade
capitalista, para Marx seria o produto de um modo de produção em desenvolvimento,
esse modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social,
política e intelectual (MARX, 1946, p.31).
Pensando
assim, o indivíduo aparece condicionado, sua atividade laboral pré
estabelecida, para fins privados e estranhos aos seus interesses próprios. O
trabalho não é somente um elemento natural, atividade vital, vida produtiva,
que constrói e transforma o mundo. Essa força vital, livre e consciente ocupa
um lugar de destaque na produção capitalista. Além de gerar valor para as
sociedades, no moderno capitalismo, o trabalho alienado afasta do homem sua
potencialidade vital, sua objetividade real como ente-espécie, seu objetivo
fundamental.
Quanto
mais fundo voltamos na história, mais o indivíduo, e por isso também o
indivíduo que produz, aparece como dependente, como membro de um todo maior: de
início, e de maneira totalmente natural, na família e na família ampliada em
tribo [Stamm]; mais tarde, nas diversas formas de comunidade resultantes do
conflito e da fusão das tribos. Somente no século XVIII, com a “sociedade
burguesa”, as diversas formas de conexão social confrontam o indivíduo como
simples meio para fins privados, como necessidade exterior. (MARX, 2011, p.
40.).
Esse
trabalho condicionado por um modo especifico de produção, o capitalista,
possibilita compreender as contradições do modo de vida mercantil. A forma como
os homens ocupam suas vidas cotidianamente seria o resultado de forças
antagônicas, de lutas de classes, afirmaria Marx. Assim, partindo da análise do
materialismo histórico, teoria abrangente e universal desenvolvida por Marx,
que buscava analisar toda e qualquer forma produtiva criada pelo homem, é
possível problematizar o modo de produção da sociedade burguesa e
consequentemente o trabalho. Os fatores fundamentais que organizam os homens
para a produção de bens são: as forças
produtivas e as relações de produção.
Esses dois fatores são apresentados por Marx já em suas obras da juventude
(1841-1844) da seguinte maneira:
(...)
na produção social da própria existência, os homens entram em relações
determinadas, necessárias, independentes de sua vontade; estas relações de
produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças
produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a
estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma
superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais
determinadas de consciência. (MARX, 1946, p.31).
As forças produtivas constituem as
condições materiais de toda a produção. Seja qual for o processo de trabalho
determinados objetos são necessários, matérias-primas extraídas da natureza,
determinados instrumentos - conjunto de forças naturais transformadas e
adaptadas pelo homem - como ferramentas ou máquinas. As relações de produção
são as formas pelas quais os homens se organizam para produzir. Essas formas se
referem às diversas maneiras pelas quais são distribuídos os elementos necessários
no processo de trabalho, esses elementos são as matérias-primas, os
instrumentos, os trabalhadores e o produto final. Essas relações de produção
podem ser escravistas, cooperativistas, servis, ou capitalista. Diferentes
formas para o que Marx definiu como modo
de produção.
Para Marx (2011, p. 43), toda
produção é apropriação da natureza pelo indivíduo no interior de e mediada por
uma determinada forma de sociedade. E seja qual for a forma de produção, ela
forja suas próprias relações jurídicas, forma de governo etc. A divisão do
trabalho aparece nesse caso como que estabelecida pela produção, no capitalismo
moderno, no qual existem duas classes que se antagonizam, que constituem a
moderna sociedade, essa divisão se mostra como consequência dessa constituição
social. Essas duas grandes classes são: a burguesia e o proletariado.
A
sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não
aboliu os antagonismos de classe. Não fez mais do que estabelecer novas
classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das que
existiram no passado. (...) a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se
por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez
mais em dois campos opostos, em duas grandes classes em confronto direto: a
burguesia e o proletariado. (MARX, 2007, p.41).
Portanto, a divisão do trabalho
aparece no pensamento marxista como produto do modo de produção capitalista,
que condiciona e estabelece o lugar dos indivíduos na sociedade. A ocupação dos
homens é forjada pela forma como eles produzem socialmente, forma determinada
pelo modelo capitalista de produção, que expropria a força de trabalho do
proletariado. A divisão do trabalho, e sua especificidade, acarretou um
distanciamento cada vez maior entre o trabalhador e o produto fruto da sua
força de trabalho. A mecanização dos meios de produção se transforma, desde o
princípio até o surgimento da indústria moderna, em processos racionalmente
operacionais, subdivididos e parciais. Gerando, com isso, um isolamento dos
indivíduos, tanto no tocante à produção como também na comunicabilidade entre
si.
Essa fragmentação abstrata, presente
nos processos de produção e, também, na divisão do trabalho, estende-se às
propriedades psicológicas do indivíduo, submetendo-o a uma passividade
contemplativa. Na sociedade burguesa, há a impossibilidade do ponto de vista
unitário sobre, não apenas, a atividade realizada e toda comunicação direta
entre os trabalhadores, mas também o distanciamento da possível compreensão,
por parte do trabalhador, da sua própria existência e do seu próprio desejo.
Dessa perspectiva, surge o trabalho alienado. Que separa o proletariado dos
meios de produção, do fruto da sua força de trabalho, que se tornaram
propriedade do empresário capitalista, da burguesia.
A concretização da divisão fabril do
trabalho, com a primeira Revolução Industrial, tornou a mercadoria uma
ocupação, uma atividade produtiva constante que não pode cessar, pois tem que
suprimir as necessidades aparentes e impostas pelo mercado à economia mundial.
O capital é a potência econômica da sociedade burguesa que tudo domina. (MARX,
2011, p. 60).
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