quarta-feira, 14 de junho de 2017

O dualismo da Natureza humana e as suas condições sociais.

RESUMO:


      Nesta obra, Émile Durkheim propõe uma investigação acerca da origem da dualidade da natureza humana expressa na imagem do homem como um ser dividido em corpo e alma, uma divisão constitucional que isola e opõe dois mundos distintos. De um lado estão os apetites sensíveis, egoístas que se referem a nossa individualidade; de outro as atividades do espírito, como o pensamento conceitual e a ação moral, necessariamente universalizável, com fins impessoais.
    A partir desse dualismo, Durkheim apresenta a chave para o entendimento do homo duplex (expressão do próprio Durkheim), a constatação de um duplo centro de gravidade da vida interior. Esse dualismo da natureza humana em corpo e alma, como realidades opostas presentes num único ser, também se constata na vida psíquica. A nossa vida interior apresenta estados de consciência opostos, não apenas por suas origens, mas também por suas propriedades. Há em todos nós dois seres que se opõem e que nos constituem.
     A individualidade é representada em nossa vida psíquica através de nossas sensações, nossos apetites, nosso egoísmo, ela só depende de si própria para se satisfazer. Mas há também em nós algo que ultrapassa nossa individualidade, que faz com que cada um de nós se afaste dos instintos e das inclinações do corpo, em nome de algo impessoal, que “exprime outra coisa que não nós mesmos.” (Durkheim, 292, 1970).
      Para responder essa questão, Durkheim primeiramente analisa as explicações existentes acerca desse dualismo, (o monismo empírico e o idealista) demonstrando que elas apenas tratam o problema de maneira aparente. Enquanto o empirismo coloca a experiência sensível como fonte de todo o conhecimento, como origem dos conteúdos da atividade intelectual, o idealismo despreza a realidade sensível em nome de uma suposta superioridade das idéias, que são perfeitas e infinitas. Essas duas correntes filosóficas não respondem a questão sobre a coexistência de realidades opostas em um único ser. Assim como também a teoria kantiana, que para Durkheim, também não resolve o problema do dualismo da existência, pois propõe o dilema em outros termos, mas não o encerra. Para Kant esse dualismo está fundado na existência simultânea de duas faculdades distintas, sensibilidade e razão, que dão conta respectivamente do particular e do universal.
       Voltando ao problema em questão, como explicar a origem no mesmo ser de atitudes contrárias, o método sociológico, apresentado por Durkheim, se apresenta com maior razoabilidade. Para Durkheim, essa constituição psíquica, assim como nosso organismo, é produto de uma gênese que seria o social. Assim, o espírito humano é comparável aos outros fenômenos observáveis e pode ser analisado como uma coisa, objetividade. Esse dualismo, segundo o sociólogo alemão, seria uma espécie de particularidade da divisão do mundo das coisas em sagradas e profanas, que podem ser verificadas na base de todas as religiões e, deve se explicar segundo os mesmos princípios.
      Há uma hierarquia entre as funções psíquicas que colocam a alma numa instância superior ao corpo. As coisas sagradas possuem autoridade que se impõe sobre as vontades individuais. Elas são ideais coletivos e são investidos, devido a sua origem, de uma autoridade diante dos indivíduos que as pensam e que neles acreditam, são representados sob a forma de forças morais que os dominam e que os apóiam. Quando estes idéias impelem a vontade individual, o indivíduo se sente conduzido, arrastado, dirigido por energias singulares que, não vem dele próprio, mas que são impostas, posteriormente respeitadas, devido ao reconhecimento e o conforto que elas traduzem. Esses mesmos ideais coletivos interligam os homens, através dessa operação psíquica entre pluralidade de consciências individuais numa consciência comum. Ideais coletivos ou representações coletivas se constituem encarnando-se em objetos materiais, coisas, seres de todas as espécies, que os traduzem exteriormente e os simbolizam. É através desse processo que a comunhão entre as consciências se dá.
      Para Durkheim, esse despertar de forças morais, que são respeitas, temidas, procuradas como forças benéficas, são colocadas num plano diferente daquelas, que são vulgares e que interessam apenas a nossa individualidade física. São ideais produtos da vida coletiva e só existem nas consciências individuais, quando são organizadas de maneira duradoura. 

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